A Polícia Federal identificou a atuação de pastores evangélicos para
beneficiar uma organização criminosa investigada por golpes milionários
que atingiram pelo menos 25 mil pessoas em todo o país.
A Operação Ouro de Ofir foi deflagrada na terça-feira, contra um grupo
que prometia lucros estratosféricos às vítimas em negócios fictícios
envolvendo ouro "do tempo do Império" e antigas "letras do Tesouro
Nacional".
Sidiney dos Anjos Peró, alvo de prisão temporária, é apontado com
um dos líderes e responsável por arregimentar pastores com o fim de
ludibriar e tirar dinheiro dos fiéis. "A
característica principal da fraude está em atingir a fé das pessoas e na
sua crença em um enriquecimento rápido e legítimo, levando-as a crer,
inclusive, que tal mecanismo seria um 'presente de Deus aos fiéis', ou
seja, trazendo a fé religiosa para o centro da fraude", afirma o
delegado Guilherme Guimarães Farias, em relatório.
Segundo o inquérito, diversas narrativas foram inventadas pela suposta
organização criminosa para ludibriar as vítimas. No entanto, apenas os
crimes cometidos por intermédio de duas histórias são alvo da ação.
Uma delas se refere a uma família de Campo Grande (MS) detentora dos
lucros sobre a venda de centenas de toneladas de ouro do tempo do Brasil
Imperial (1822-1889), mas, para repatriar os valores obtidos com os
lucros, alega ter um acordo com uma "Corte Internacional", que coloca
uma condição: 40% do montante que receberiam os herdeiros no Brasil
teriam de ser doados a terceiros.
Em outro golpe, as vítimas davam valores em troca de uma comissão sobre a
"recuperação de antigas letras do Tesouro Nacional". O esquema era o
mesmo: em troca de quantias de, no mínimo, R$ 1 mil, eram prometidos às
vítimas grandes lucros. Em ambos os casos, as pessoas nunca receberam o
que foi prometido. Há quem já tenha dado mais de R$ 20 mil ao grupo.
De acordo com a PF, abaixo dos mentores dos esquemas, estão
"corretores", que ficam a cargo de cooptar vítimas e inseri-las em
grupos nas redes sociais, e escriturários, que fraudavam documentos.
Um dos golpes tem como mentor Sidiney dos Anjos Peró, conhecido pelas
vítimas como "‘Dr. Peró". Ele se diz juiz, mas apenas possui uma
carteira de identificação de juiz arbitral do Tribunal de Justiça
Arbitral Brasileiro. "É um cargo que não existe. Um árbitro existe em
Câmaras de negociação, não é um cargo público. O que eles queriam era
status", afirma o delegado que conduz as investigações.
Guilherme Farias afirma, em representação à Justiça, que "além dos
símbolos usados por Peró, que remetem à fé cristã, como a Estrela de
Davi e a Arca da Aliança", o suspeito "arregimenta pastores evangélicos,
possivelmente como corretores, para vender 'aportes' de sua operação a
fiéis das respectivas igrejas evangélicas onde referidos pastores agem
também de forma criminosa, seja vendendo 'aportes' ou mesmo divulgando e
estimulando uma operação ilegal". "Vários pastores são citados nos
grupos, dos mais diversos estados brasileiros", relata.
A PF ainda afirma que "Sidinei dos Anjos Peró está sendo alvo de uma
investigação na Policia Civil de Primavera do Leste/MT, juntamente com
Gleison França do Rosário, que tudo indica, teria sido seu 'corretor' na
região citada, fato este ocorrido dentro de uma igreja evangélica,
inclusive com a participação do pastor responsável pela instituição
religiosa’.
O nome da operação faz referência a uma passagem bíblica, na qual o ouro
da cidade de Ofir era finíssimo, puro e raro, sendo o mais precioso
metal da época. Ofir nunca foi localizada e nem o metal precioso dela
oriundo.
0 comentários:
Postar um comentário