Cerca de 200
indígenas de oito povos da Amazônia, junto com ribeirinhos e pescadores,
ocuparam o canteiro de obras de Belo Monte contra hidrelétrica.
A Comissão destacou o caso do povo Juruna,
da Terra Indígena Paquiçamba (PA), que vive próximo à barragem e sofre
graves consequências da implantação do empreendimento; No encerramento
de sua visita ao país, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) chamou a atenção das autoridades e da sociedade em geral para
visibilizar, atender e solucionar urgentemente a situação de repetida
violação dos direitos humanos dos povos indígenas. A CIDH também
destacou o caso do povo Juruna, afetado pela implementação da usina
hidrelétrica (UHE) Belo Monte, no Pará.
No Brasil, os povos indígenas “sofrem episódios frequentes de
violência e falta de atenção por parte dos serviços públicos, além de
enfrentar dificuldades e obstáculos crescentes na demarcação de suas
terras”, disse Antônia Urrejola Noguera, relatora da CIDH para o Brasil,
ao apresentar as conclusões preliminares.
“O Brasil tem sido um dos maiores violadores dos direitos humanos dos
povos indígenas. Nessa audiência com a CIDH, a Articulação dos Povos
Indígenas do Brasil (Apib) levou esses casos e a preocupação com o
cenário político atual, onde o discurso de ódio e racismo tem sido cada
vez maior, inclusive pela via institucional” relatou Luiz Eloy Terena,
assessor jurídico da Apib.
No último dia 7 de novembro, a delegação da CIDH visitou a aldeia
Mïratu, na Terra Indígena Paquiçamba, do povo Juruna, uma das
comunidades indígenas afetadas pela barragem de Belo Monte. É a primeira
vez que a Comissão foi ao local.
Bel e Gilliarde Juruna apresentam os impactos de Belo Monte sobre seu território e modo de vida|Pedro Prado-Farpa-CIDH
Ali, a CIDH ouviu os depoimentos de indígenas e ribeirinhos que lutam
para manter seu modo de vida tradicional apesar da morte de milhares de
peixes, da contaminação do Xingu, do despejo forçado de suas terras sem
um remanejamento para perto do rio e o desenvolvimento de projetos
produtivos inadequados. As lideranças relataram que esses impactos
afetam de maneira diferenciada à mulheres e crianças. A Comissão também
ouviu representantes da cidade de Altamira.
“Nós ressaltamos a importância da visita histórica da Comissão à TI
Paquiçamba,e o reconhecimento dos impactos negativos que Belo Monte
causou nos direitos humanos dos habitantes do Xingu”, disse Astrid
Puentes, codiretora da Associação Interamericana para a Defesa do meio
ambiente (AIDA). “Corresponde agora ao governo do Brasil adotar decisões
e recomendações da CIDH, cumprindo com normas de direito e à proteção
das pessoas de seu país”, complementou.
Durante a visita as pessoas se mostraram particularmente preocupadas
com a implementação, no próximo ano, do plano de manejo para o fluxo do
rio Xingu, chamado de Hidrograma de Consenso. O hidrograma não prevê um
fluxo de água suficiente que garanta a sobrevivência das comunidades
indígenas e ribeirinhas da região, e pode levar à extinção diversas
espécies de plantas e animais.
“Os comissionários tiveram a oportunidade de confirmar a gravidade
dos impactos e a urgência de revisar os critérios para definir a vazão
residual que o rio Xingu deve manter na região da Volta Grande para
garantir a subsitência física e cultura dos ribeirinhos e indígenas”,
comenta Biviany Rojas, advogada do ISA.
Em 2011, as comunidades do indígenas e ribeirinhas do Xingu,
representadas pela AIDA, Sociedade Paraense para a Defesa dos Direitos
Humanos (SDDH), Movimento Xingu Vivo para Sempre, Prelazia do Xingu,
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Justiça Global, apresentaram
uma denúncia contra o Brasil pelo caso. No mesmo ano, a Comissão
concedeu medidas urgentes de protecção aos povos indígenas afetados.
O caso foi iniciado formalmente em dezembro de 2015 e, em maio deste
ano, as organizações apresentaram os argumentos finais. Com base nesse
documento e nos argumentos do estado brasileiro, a Comissão publicará um
relatório no qual concluirá se houve ou não violações aos direitos
humanos, podendo emitir recomendações de reparação que deverão ser
cumpridas pelo Brasil.
Fonte: ISA
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