A Bolsa de São Paulo chegou a perder quase 3 mil
pontos nesta segunda-feira, 28, e bateu no nível dos 94 mil pontos com a
forte queda nas ações da Vale e da Bradespar, empresa
do Bradesco que tem como maior participação papéis da mineradora. As
ações ordinárias das duas companhias perdiam mais de 20% logo no início
de pregão, repercutindo a tragédia em Brumadinho (MG), no primeiro dia de sessão após o ocorrido. Ao fim dos negócios, a Vale perdeu R$ 71 bilhões em valor de mercado. Na quinta-feira, 24, a companhia valia R$ 289,767 bilhões na Bolsa. Nesta segunda, acabou o pregão valendo R$ 218,706 bilhões.
As ações ordinárias da Vale terminaram o dia em baixa de 24,52%, a R$ 42,38, enquanto as preferenciais da Bradespar caíram 24,49%, a R$ 26,43. O Ibovespa encerrou em queda de 2,29%, aos 95.443,88 pontos.
A Vale ON – que responde por 10,9% da carteira do Ibovespa – é de
longe a mais negociada entre as ações do índice. A segunda ação mais
negociada é a ON da Bradespar, empresa do Bradesco que tem como maior
participação a Vale.
O rompimento da barragem eleva a percepção de risco em torno da
mineradora e deve continuar pressionando as ações da companhia por um
tempo, ainda que do ponto de vista econômico o impacto das operações
locais seja de menos de 2% da produção total da Vale. Segundo os
analistas dos bancos Bradesco BBI e BTG Pactual, a crise criada pode
trazer restrições mais severas às operações de outras minas, elevando os
custos do setor e comprometendo potencialmente a produção de minério.
Os dois bancos destacaram que o impacto ambiental do rompimento da
barragem parece menor do que o caso da Samarco, o que poderia se
converter em menores multas. Entretanto, o aspecto humano tem pesado nas
projeções, uma vez que o número de mortos até agora já superou em muito
o caso de 2015, sem contar as centenas de pessoas ainda desaparecidas.
Segundo os analistas Leonardo Correa e Gerard Roure, do BTG, o
segundo rompimento de barragens ligado à empresa em poucos anos coloca
pressão adicional por parte da sociedade sobre a Vale. “A questão agora
parece ser: podemos utilizar as barragens de rejeito com segurança,
especialmente às próximas das comunidades?”, escreveram. Diante do
cenário, a regulamentação tende a ser muito severa no País,
potencialmente tendo efeito sobre projetos e operações já existentes.
O banco ainda colocou em xeque a própria retomada das operações da
Samarco depois deste rompimento. “Essa tragédia vai claramente elevar o
escrutínio regulatório no País, o que pode ter implicações futuras na
retomada das operações da Samarco”. A estimativa era de que as operações
da empresa pudessem ser retomadas em meados de 2020.
Na mesma direção, o Bradesco BBI ponderou as dificuldades de se
calcular o impacto. “Embora não acreditemos que o impacto final do
acidente vá superar o caso da Samarco (US$ 10 bilhões, ou US$ 0,50 por
ação), nós achamos que o desempenho das ações podem ser prejudicados no
curto prazo, à medida que o fluxo de notícias sobre possíveis multas e
custos se intensificam”, escreveram os analistas Thiago Lofiego, Arthur
Suelotto e Isabella Vasconcelos. Eles salientaram a sólida posição de
alavancagem da empresa, o que implicaria em pouco dano do ponto de vista
do balanço patrimonial.
Segundo o Bradesco, os impactos sobre o mercado de minério ainda vão
depender de outras minas do Sul e do sistema do Sudoeste serem parados
para inspeções. “Se o impacto da produção for limitado apenas à mina de
Feijão, o acidente representaria apenas 0,6% do mercado transoceânico”,
destacaram.
O impacto sobre o valor de mercado da mineradora divide analistas. Há
quem entenda que o efeito no negócio da Vale será limitado. Os
profissionais destacam que a produção local corresponde a menos de 2% da
produção total da Vale, portanto, do ponto de vista estritamente
operacional, o impacto do rompimento seria pequeno. “A capacidade ociosa
em outras minas permite o remanejamento da operação”, comentaram os
analistas da Coinvalores, em relatório assinado por Sandra Peres, Felipe
Martins Silveira e Sabrina Cassiano.
Eles salientam, porém, que “além de novos impactos financeiros
potenciais, mudanças regulatórias também ficam no radar, com a
possibilidade de exigências mais rígidas quanto à licença para novas
barragens e minas”. Eles sugerem que as ações da Vale devem ficar
pressionadas até que todos os potenciais impactos possam ser mensurados
de forma mais clara.
“No curto prazo, os papéis da mineradora deverão continuar
pressionados, reflexo dos danos de imagem à companhia e provisões para
pagamento de multas e indenizações”, disseram os profissionais da Guide,
que também sugerem que o rompimento da barragem poderá atrasar as
concessões e licenças ambientais nas operações Brasil. “Há também o
risco de novos processos de investidores nos EUA e rebaixamento de
agências de risco”, acrescentaram. A casa lembra que apesar de decisões
judiciais que levaram ao bloqueio de R$11 bilhões, a Vale possui fôlego
financeiro, já que contava com um caixa próximo de cerca de R$ 23
bilhões ao fim do terceiro trimestre.
Paciência
Para a gestora Alaska, se os preços continuarem despencando e nenhuma
maior surpresa negativa surgir, a estratégia é comprar mais e aumentar a
exposição aos papéis da mineradora, segundo Henrique Bredda, gestor da
Alaska, que tem entre 7% e 8% de exposição à mineradora.
“Acreditamos que o mercado vai continuar nervoso por mais algum
tempo. No momento, não vamos fazer nada. Vamos manter nossa posição e
avaliar. Queremos entender o impacto do rompimento”, afirmou Bredda. “Se
o papel continuar nesse nível de preço ou cair mais e se não surgir
nenhuma informação adicional, uma megamulta, novo bloqueio, poderemos
aumentar a posição para algo entre 10% e 11% do fundo Black”, disse o
gestor.
O analista-chefe da Necton, Glauco Legat, disse que não recomendaria a
venda das ações da companhia tendo em vista o baixo impacto do
rompimento na produção de minério de ferro da companhia, e o fato de que
há capacidade ociosa. Além disso, aponta que o sistema logístico, que
interliga a Ferrovia Espírito Santo – Minas Gerais, aparentemente não
foi interrompido e o escoamento da produção segue intacto.
Ações da Vale caem 24,52%; dólar também fecha o dia em queda
Bruno Bocchini /Agência Brasil
São Paulo – O Ibovespa, principal índice do desempenho das ações negociadas na B3, antiga BM&F Bovespa, fechou a segunda-feira (28) em queda de 2,29%, aos 95.604 pontos. A queda do indicador foi puxada pela forte desvalorização das ações da Vale e de sua holding, a Bradespar, que tiveram baixa de 24,52% e 24,49%, respectivamente.
São Paulo – O Ibovespa, principal índice do desempenho das ações negociadas na B3, antiga BM&F Bovespa, fechou a segunda-feira (28) em queda de 2,29%, aos 95.604 pontos. A queda do indicador foi puxada pela forte desvalorização das ações da Vale e de sua holding, a Bradespar, que tiveram baixa de 24,52% e 24,49%, respectivamente.
Dentre as cinco ações mais desvalorizadas hoje na B3 estão ainda as
da CSN (-5,69%), Petrobras ON (-3,53%), e Gerdau (3,32%), empresas que
também têm ligação com o ramo de mineração.
As ações que mais valorizaram foras as da Ambev (4,6%), RaiaDrogasil
(4,53%), e Engie (3,81%). Os papéis mais negociados foram os da Vale
(-24,52%), Petrobras PN (-3,01%), e ItauUnibanco (1,79%).
O dólar comercial fechou o dia com queda de 0,17%, cotado a R$ 3,76. Já o euro teve leve elevação, de 0,007%, custando R$ 4,30.
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