Segundo a CPT, em todo o País foram 37 mortes, o maior número registrado entre o período de janeiro a maio desde 2008
O Brasil teve 37 assassinatos em conflitos por terra entre janeiro e
maio deste ano, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT),
recorde registrado desde 2008. No mesmo período de 2016, 30 pessoas
foram mortas em áreas indígenas, quilombolas ou em territórios em
disputa com lideranças sem-terra e fazendeiros. As informações são do
G1.
De acordo com o relatório, no Pará foram 13 mortes este ano, em
Rondônia 10 mortes, no Mato Grosso nove mortes, em Minas Gerais duas
mortes e no Rio Grande Sul, Maranhão e Alagoas uma morte em cada.
Os principais casos são duas chacinas: uma no Mato Grosso e outra no
Pará, que envolveram posseiros e trabalhadores rurais sem-terra. A
primeira delas, em 19 de abril, ocorreu na Gleba Taquaruçu do Norte, em
Colniza, no Mato Grosso, e causou nove mortes. De acordo com a CPT, um
grupo de quatro pistoleiros chegou à comunidade e atirou, além de também
usar golpes de facão. A perícia informou que houve tortura, já que
alguns corpos foram encontrados amarrados e outros dois foram degolados.
“Nós estamos vivendo um momento muito complicado de paralisação da
reforma agrária, indefinição sobre a questão fundiária, sobre demarcação
de terra, sobre regularização de áreas de comunidades de quilombo e
ribeirinhos, junto com uma ofensiva do setor ruralista no sentido de
ampliar os interesses ligados ao agronegócio. Tudo isso acaba
tensionando muito a situação no campo e, é claro, agravando as
possibilidades de conflito”, disse o advogado da CPT, José Batista
Afonso.
Em quase todos os casos, a CPT acredita que há envolvimento de
pistoleiros. A exceção está na segunda chacina do relatório, recente
conflito da última quarta-feira (24) na Fazenda Santa Lúcia, em Pau
d’Arco, no Pará, onde nove homens e uma mulher morreram em confronto com
a polícia.
De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa
Social (Segup), os policiais foram cumprir mandados de prisão referentes
ao assassinato de um vigilante de fazenda e foram recebidos a tiros. Os
parentes das vítimas contestam a versão e dizem que foi a polícia quem
chegou atirando.
“De fato, o Pará vive um grave momento de acirramento dos conflitos
agrários. Isso é resultado imediato do abandonamento das políticas
públicas de reforma agrária e titulação de territórios indígenas e de
comunidades tradicionais. A situação é agravada pela extinção da
Ouvidoria Agrária e a consequente ausência de tratamento adequado dos
conflitos”, disse a promotora de Justiça da Região Agrária de Castanhal,
Eliane Moreira.
“Instituições como o Incra e Iterpa (Instituto de Terras do Pará) não
cumprem o seu papel de reforma agrária e regularização fundiária, assim
como deixam de fornecer informações essenciais para a adequada analise
dos conflitos. É preciso que o sistema de segurança implemente
efetivamente a política estadual de proteção de defensores de direitos
humanos, hoje uma imensa ausência que vulnera vidas”, completa Moreira.
No Pará, de acordo com a promotora, o número é maior que o
apresentado pela CPT, com 18 assassinatos devido a conflitos. Em
reportagem do Jornal Nacional publicada no início de maio, já eram
apontadas sete mortes antes da chacina em Pau d’Arco.
Áreas indígenas e quilombolas
A maior parte das mortes envolve trabalhadores rurais sem-terra,
posseiros, fazendeiros e/ou madeireiras, mas ocorrem, também,
assassinatos em áreas indígenas e quilombolas. Uma das vítimas, morta em
8 de março, Damião Lima da Silva, o Dão, era um líder indígena, segundo
a CPT. O documento divulgado diz que ele foi assassinado a golpes de
facão e tiros enquanto trabalhava em uma lavoura, área sobreposta à
terra indígena ocupada por posseiros na Aladeia Coité, no município de
Palmeiras dos Índios, em Alagoas.
No Rio Grande do Sul, o cacique Antônio José Mig Claudinho, do
município de Ronda Alta, foi assassinado no dia 20 de março. A CPT
acredita que o conflito está relacionado ao arrendamento de terras para o
plantio de soja. A vítima já tinha denunciado ameaças de morte.
Raimundo Silva foi morto em área quilombola em 12 de abril, com um
tiro nas costas quando voltava para a comunidade Charco, no município de
São Vicente Ferrer, no Maranhão. A polícia ainda investiga o caso.
O que diz o Incra
Responsável pela reforma agrária no país, o Incra diz que o cadastro e
seleção de beneficiários para a inclusão em novos assentamentos está
paralisado desde abril de 2016 por decisão do Tribunal de Contas da
União (TCU), e que aguarda uma decisão final do órgão para retomar o
processo. A instituição informa ter 12 mil lotes prontos para assentar
famílias, mas depende da liberação da corte.
Ouvidoria Agrária Nacional, diz o instituto, foi incorporada à
estrutura do órgão no início do ano, e começou a atuar efetivamente há
cerca de dois meses.
Sobre as mortes em Colniza (MT), o Incra diz que o conflito tem
relação com extração de madeira, e não com a reforma agrária. E, sobre a
chacina em Pau d’arco (PA), informa que o proprietário retirou a oferta
de venda da terra para fins de reforma agrária que havia feito ao
instituto.
O Iterpa, do Pará, diz que a área de Pau d’arco onde ocorreu a
chacina não está área de atuação do instituto, responsável por cerca de
15% das terras do Estado. “E o órgão vem cumprindo, sim, sua função. No
que se refere a regularização de áreas quilombolas, por exemplo, o Pará é
o estado que mais titulou em benefício desse segmento”, diz o órgão, em
nota.
O instituto paraense também afirma que, nos últimos dois anos,
concedeu mais de dois mil títulos de propriedade a pequenos produtores e
comunidades extrativistas, superando o que foi feito entre 2011 e 2014.
“A meta até 2018, é alcançar oito mil títulos entregues em um período
de quatro anos”, informam.
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