Nova ferrovia vai ligar Lucas do Rio Verde a Itaituba (PA)
Alternativa considerada mais viável para o escoamento da produção
agrícola de Mato Grosso, o corredor rumo aos portos do Arco Norte deve
ter um reforço nos próximos anos.
Uma ferrovia paralela à BR-163 é vista como solução para consolidar a
rota para os terminais de carga de Miritituba (PA). Chamada tecnicamente
de EF-170, a linha, que está apenas em estudos, recebeu um nome bem
sugestivo de sua finalidade: Ferrogrão. “Faz frente à expansão da
fronteira agrícola e à demanda por uma infraestrutura integrada”,
justifica o Ministério dos Transportes no informe sobre o projeto.
A ferrovia deve ter 1.142 quilômetros de extensão, ligando Lucas do Rio
Verde (MT) a Itaituba (PA). São estimados investimentos de R$ 12,6
bilhões, que incluem desde a desapropriação de áreas, passando pelas
compensações ambientais, até o assentamento dos trilhos e a operação dos
trens no transporte de cargas. “A EF-170 trará alta capacidade de
transporte e competitividade ao corredor, que já está em consolidação
pela BR-163”, defende o Ministério dos Transportes.
Construir e operar a ferrovia despertou o interesse de um consórcio de
empresas. É um grupo de peso, que reúne as maiores tradings de grãos do
Brasil. Para viabilizar o empreendimento, Cargill, Bunge, ADM e AMaggi
se consorciaram à Estação da Luz Participações (EDLP), empresa que
estrutura projetos de logística. Cada um tem 16,6% de participação,
explica Guilherme Quintella, presidente da EDLP.
“O principal efeito da ferrovia é aumentar a competitividade. E o
impacto ambiental será menor que o da rodovia”, garante ele. Estudos
feitos em 2015 pelo consórcio apontavam que, se em 2020 a ferrovia
estivesse em operação, 87% da produção de Mato Grosso seria escoada por
trem. Só pela Ferrogrão, seriam transportados cerca de 20 milhões de
toneladas de grãos. O Ministério dos Transportes estima que, em 2050, o
volume transportado pela estrada de ferro rumo a Miritituba seja
superior a 42 milhões de toneladas.
Os estudos sobre a obra estão em fase final de ajuste pelo governo.
Antes da publicação do edital, o projeto será submetido a consultas
públicas e passará pela avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU).
O leilão de concessão – válida por 65 anos – está previsto para o
segundo semestre deste ano. Caso vença o leilão, o consórcio formado
pelas tradings de grãos e pela EDLP planeja construir a Ferrogrão em
cinco anos. O investimento seria 30% de capital próprio e os outros 70%
financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES)
Inicialmente, seria construído o trecho entre Sinop (MT) e Miritituba
(PA), com 933 quilômetros (veja no quadro abaixo). A extensão até Lucas
do Rio Verde dependeria da chegada de outros ramais ao município, diz
Guilherme. “A Ferrogrão vai ter os trens dela, transportar para os
sócios e outros clientes. Não será um departamento dessas empresas, mas
um negócio em que elas são sócias”, explica.
Para o executivo, há uma coisa que atrapalha um projeto como esse: a
atual situação da BR-163. Aberta há 40 anos, a rodovia ainda está
inacabada e causa transtornos. Neste ano, mais de 50 quilômetros de
congestionamentos travaram a movimentação de grãos em pleno pico da
colheita. Guilherme Quintella diz que, com a rodovia do jeito que está,
fica comprometido o diálogo com possíveis investidores. “O investidor
pensa: como é possível construir a ferrovia se ainda não resolvemos o
problema da BR-163?”, diz.
O presidente do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz, é otimista em
relação à Ferrogrão e não vê a situação da BR-163 como obstáculo para a
obra. Para ele, o mais importante é que a ferrovia já tem investidores
de peso interessados. “Nasce com patrocinador. Vai contribuir muito com a
questão da intermodalidade. A rodovia alimenta a ferrovia, que leva o
grão a Miritituba e da hidrovia para os portos. O que esperamos é que
reduza o custo do frete”, diz Edeon.
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