Atlas da violência 2017 coloca cidade do Pará como primeira entre as
cidades com mais de 100 mil habitantes no quesito homicídios e mortes
violentas sem causas determinadas.
A cidade de Altamira, no sudeste do Pará, é o município mais violento do
Brasil. A conclusão é dos pesquisadores do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), que divulgaram nesta segunda-feira (5) o
Atlas da Violência 2017. O G1 entrou em contato com a Secretaria de
Segurança Pública do Pará (Segup) e aguarda posicionamento sobre a
pesquisa.
O estudo, feito em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
analisou dados coletados em 2015 para concluir que o município tem a
maior taxa de homicídios e mortes violentas com causas indeterminadas
dentre todas as cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes.
Além das particularidades geográficas, a cidade precisa lidar com as
dificuldades da explosão populacional: incentivados por grandes
projetos, como a construção da usina hidrelétrica Belo Monte, na vizinha
Vitória do Xingu, Altamira viu sua população saltar de pouco mais de 77
mil habitantes no ano 2000 para os atuais 109.938 habitantes, segundo o
censo realizado pelo IBGE em 2016.
Segundo os pesquisadores do IPEA, este desordenado crescimento
impulsionou a violência. “A forma e a velocidade como o crescimento
econômico afeta o território é outro aspecto relevante. Por exemplo, um
crescimento rápido e desordenado das cidades (como aconteceu em
Altamira, no rastro da construção da Usina de Belo Monte) pode ter
sérias implicações sobre o nível de criminalidade local”, cita o estudo.
Algumas explicações para este aumento estão diretamente ligadas a
concentração de renda. A pesquisa aponta que, caso boas oportunidades de
emprego fiquem restritas a uma parcela da sociedade, a população
marginalizada acaba sendo incentivada a entrar no mundo do crime.
Outra questão pontuada pelos pesquisadores é que a circulação de
dinheiro na cidade também atrai coisas ruins, como o tráfico de drogas e
outros mercados ilícitos, além de estimular a migração desordenada.
“A situação acima ocorre quando as transformações urbanas e sociais
acontecem rapidamente e sem as devidas políticas públicas preventivas e
de controle, não apenas no campo da segurança pública, mas também do
ordenamento urbano e prevenção social, que envolve educação, assistência
social, cultura e saúde”, explica a pesquisa.
Consequência previsível
O professor doutor Jaime Luiz Cunha de Souza, que publicou em 2016 o
estudo “Grandes projetos na Amazônia: A hidrelétrica de Belo Monte e
seus efeitos na segurança pública” pela Universidade Federal do Pará,
diz que o acumento da violência em áreas onde existem grandes projetos é
previsível por conta da falta de planejamento em segurança pública.
"Isto sempre ocorre toda vez que há um grande projeto. Os grandes
projetos fazem planejamento para várias áreas, mas é mínimo o
planejamento para segurança pública. Então fatalmente ocorrem esses
aumentos da violência, como ocorreu em Tucuruí, por conta da usina, e em
Parauapebas por conta da Vale", relembra.
"A questão é que quando a obra é implantada, isso parece uma nova chance
de emprego para pessoas do Brasil inteiro, que vão para lá sem nada,
apenas com a esperança de sobreviver. Após chegar ao local verificam que
não existem as oportunidades que imaginavam, é um desespero", avalia.
Para o pesquisador, a situação de abandono em que vivem essas pessoas é o
combustível para o aumento da criminalidade. "Esse pessoal engrossa
conflitos que já existem na área. Isso é totalmente previsível, todo
grande projeto da Amazônia tem este mesmo problema. Existe um déficit
que os planejadores não se deram conta, ou se dão conta não dão
importância, entre o fluxo gigantesco de pessoas para a implantação do
projeto, que é inevitável, e o fato de não ter como administrar as
consequências disso com recursos exclusivos da prefeitura", conclui.
Fonte: G1 Pará.
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