Inicio »
» Garimpo de ouro em Belo Monte terá mais rejeitos que Mariana
O projeto de mineração de ouro que a empresa
canadense Belo Sun pretende operar nas bordas da barragem de Belo Monte,
hidrelétrica em construção no Rio Xingu, no Pará, vai produzir um
volume de rejeitos superior àquele que vazou no rompimento da barragem
de Fundão, em Mariana (MG).
Em novembro de 2015, o vazamento de 32 milhões de metros cúbicos de
rejeitos de minério de ferro foi a maior catástrofe ambiental do País.
O projeto da Belo Sun, previsto para extrair ouro a uma distância
entre 10 e 15 quilômetros da barragem que forma o lago da hidrelétrica,
prevê o acúmulo de até 35,43 milhões de metros cúbicos de rejeitos.
O empreendimento, que em seus estudos ambientais classifica como de
“alto risco” a possibilidade de “rompimento da barragem de rejeitos”,
vai guardar nas margens do Xingu pilhas de estéreis químicos bem mais
agressivos que aqueles retirados da mineração de ferro.
A mineração de ouro da Belo Sun, que hoje está suspensa por liminar
judicial devido a problemas fundiários na área, será feita com o uso de
dinamites e abertura de “cavas”.
Por causa da proximidade com a barragem, a concessionária Norte
Energia, dona de Belo Monte, afirmou em 2015 que havia necessidade de
avaliar “potenciais aspectos sinérgicos” que poderiam surgir da operação
conjunta da usina e da mineração.
Entre os itens destacados pela empresa, conforme nota técnica do
Ibama de julho de 2015, estava a necessidade de avaliar o “potencial de
sobrecarga socioambiental” na região e, principalmente, a “sismicidade,
devido ao uso de explosivos durante o tempo de exploração da mina”.
No início deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) no Pará
enviou questionamentos ao Ibama para saber se o órgão tem acompanhado
esses estudos.
Na resposta enviada ao MPF no dia 31 de janeiro, à qual o jornal O
Estado de S. Paulo teve acesso, o Ibama deixa claro que não tem ideia do
que está se passando.
“Até o presente momento o Ibama não participou nem foi instado a
participar de reunião técnica com a Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do Pará para discutir os impactos
cumulativos ou sinérgicos entre a hidrelétrica de Belo Monte e o projeto
de mineração Belo Sun”, afirmou o diretor substituto da diretoria de
licenciamento do órgão, Jonatas Souza da Trindade.
Apesar de toda a pressão que o projeto da Belo Sun trará sobre uma
região já impactada pelas obras da maior hidrelétrica do País, o
licenciamento ambiental da mineração é responsabilidade do governo
paraense.
Questionada sobre os estudos de riscos de abalo sísmico nas
estruturas da usina, a Norte Energia limitou-se a informar que “já
declarou posição sobre esse assunto em fórum próprio e no momento
adequado” e que “não vai comentar o tema na reportagem”.
Impacto
Para André Villas-Bôas, secretário executivo do Instituto
Socioambiental (ISA), o projeto repete os erros de outros
empreendimentos erguidos na região amazônica, ao desrespeitar o processo
de licenciamento ambiental, principalmente quanto aos impactos em
terras e populações indígenas.
O governo do Pará ignorou parecer técnico da Funai contrário à
liberação do empreendimento e deu sinal verde para a sua viabilidade.
“Novamente esses povos que são vulneráveis são deixados em uma
situação de fragilidade sobre os impactos de uma obra como essa, a
exemplo do que aconteceu com Belo Monte”, disse Villas-Bôas.
Em nota, a Belo Sun afirmou que o estudo de avaliação das detonações
“foi elaborado por um engenheiro de minas especialista neste tema” e
protocolado na Semas em abril de 2013, constatando que não há risco a
Belo Monte.
“O Projeto Volta Grande fica distante cerca de 15 km do barramento de
Pimental da hidrelétrica. Além disso, as detonações do Projeto Volta
Grande para abertura da cava de onde será retirado o minério, por
exemplo, serão pontuais e controladas pelo programa de controle de ruído
e vibração, previsto no licenciamento ambiental”, declarou a empresa.
A Belo Sun afirmou ainda que foi elaborado um “plano de fogo”, para
que a quantidade de explosivos que será detonada fique “dentro dos
limites exigidos para que não haja comprometimento de pessoas e das
estruturas do próprio empreendimento”.
Segundo a Belo Sun, “a possibilidade de que as vibrações geradas
pelas detonações venham a comprometer a estabilidade do barramento
Pimental (de Belo Monte) é praticamente nula, dada a distância e o
controle que será implementado”.
A empresa informou que pretende investir R$ 1,22 bilhão, com produção de cerca de 4,6 mil quilos de ouro por ano.
0 comentários:
Postar um comentário